Baías do Brasil SisBaHiA IVIG COPPE UFRJ

PROJETO BAÍAS DO BRASIL

ESTUÁRIO DO RIO PARAÍBA DO NORTE

Estuário do Rio Paraíba do Norte
Tela do Sistema SisBaHia

Setembro/2018 – Rio de Janeiro

PROJETO BAÍAS DO BRASIL

ESTUÁRIO DO RIO PARAÍBA DO NORTE

EQUIPE TÉCNICA

Larissa Maia Dantas da Silva
Eng. Ambiental, Mestranda em Eng Oceânica
Gabriele dos Santos Silva
Oceanógrafa, Mestranda em Eng Oceânica
Rodrigo Amado Garcia Silva
Eng. Ambiental, M.Sc. em Eng. Oceânica, Doutorando em Eng. Oceânica
Patricia Auler Rosman
Analista de Sistemas, M.Sc em Eng. de Sistemas
Paulo Cesar Colonna Rosman (Coordenador)
Eng. Civil, M.Sc. em Eng. Oceânica, Ph.D. em Eng. Costeira

Conteúdo

1 Identificação

2Objetivos e contexto do projeto

2.1Sobre as modelagens deste relatório e outras

3Características da área de estudo

4Modelagem Digital do Terreno

4.1Definição do domínio de interesse

4.2Malha de discretização

4.3Batimetria

4.4Rugosidade equivalente de fundo

5Modelos desenvolvidos

5.1Cenários de Modelagem

5.2Dados oceanográficos

5.3Dados hidro-meteorológicos

5.4Estações

5.5Calibração

6Modelo de transporte Euleriano

6.1Taxa de renovação

6.2Idade da água

7Resultados

7.1Hidrodinâmico

7.2Taxa de Renovação

7.3Idade da Água

8Referências

8.1Outros trabalhos

9Reconhecimento

Lista de Figuras

Figura 1
Vista aérea do Estuário do Rio Paraíba do Norte e o seu entorno. Fonte: Mosaico gerado a partir de imagens do satélite Landsat 8 OLI (Operational Land Imager) obtidas no ano de 2017.
Figura 2
Mapa base da Estuário do Rio Paraíba do Norte utilizado na modelagem.
Figura 3
Domínio de modelagem e malha de discretização utilizada. Ver dados da malha na Figura 4
Figura 4
Tela do SisBaHiA® com as informações sobre a malha e o domínio de modelagem no quadro a direita. Veja mapa da malha na Figura 3.
Figura 5
Batimetria do Estuário do Rio Paraíba do Norte utilizada no domínio de modelagem.
Figura 6
Tela de Malhas & Domínios de Modelagem na aba de Nós, onde é possível extrair as coordenadas “X” e “Y” em UTM dos nós da malha, os dados de batimetria e rugosidade equivalente de fundo em metros.
Figura 7
Amplitude da rugosidade equivalente de fundo do Estuário do Rio Paraíba do Norte utilizada no domínio de modelagem.
Figura 8
Tela inicial do Modelo Hidrodinâmico do SisBaHiA® com informações sobre a simulação. O tempo inicial corresponde a 01/03/2017 00:00 e o final a 31/05/2017 24:00.
Figura 9
Curva de maré na embocadura do estuário, próximo ao Porto de Cabedelo durante os 92 dias de modelagem, de 01 de março a 31 de maio de 2017. O nível médio está 1.3 m acima do nível de redução da Carta Náutica 830 da DHN.
Figura 10
Tela do Modelo Hidrodinâmico do SisBaHiA® na aba “Parâmetros”, onde se pode obter a série de elevações da maré nos nós da Fronteira Aberta.
Figura 11
Gráfico representando as vazões médias mensais de cada afluente do ERPN.
Figura 12
Tela do Modelo Hidrodinâmico do SisBaHiA® na aba “Fronteiras>Contornos>Terrestres” com os nós do Tipo 9 filtrados na tabela de nós terrestres, que correspondem aos que foram inseridos os valores das vazões.
Figura 13
Tela do Modelo Hidrodinâmico do SisBaHiA® na aba “Variáveis Meteorológicas>Vento”, onde são inseridas as informações dos ventos considerados para as modelagens
Figura 14
Localização dos pontos de grade do modelo atmosféricos ERA-Interim do ECMWF, nos quais foram extraídas as séries temporais vento utilizadas como forçantes atmosféricas para o modelo hidrodinâmico
Figura 15
Dados de ventos representativos do mês de março de 2017 para a estação Est1 inseridas no modelo hidrodinâmico. As setas são proporcionais ao módulo da velocidade do vento assim como o padrão de cores de fundo e a direção das setas indicam a direção do vento
Figura 16
Dados de ventos representativos do mês de novembro de 2017 para a estação Est1 inseridas no modelo hidrodinâmico. As setas são proporcionais ao módulo da velocidade do vento assim como o padrão de cores de fundo e a direção das setas indicam a direção do vento
Figura 17
Tela do Modelo Hidrodinâmico do SisBaHiA® na aba “Resultados”, onde está a tabela de todas as estações consideradas para as modelagens
Figura 18
Mapa de estações de gravação de resultados temporais a cada trinta minutos.
Figura 19
Previsão de maré e níveis de água calculados pelo modelo hidrodinâmico no cais do Porto de Cabedelo para os primeiros 31 dias de simulação.
Figura 20
Tela do Modelo de Transporte Euleriano do SisBaHiA®, utilizado para as simulações das taxas de renovação e da idade da água para os cenários de cheia e seca.
Figura 21
Condição inicial imposta nos modelos de transporte Euleriano para o cálculo da taxa de renovação do Estuário do Rio Paraíba do Norte.
Figura 22
Condição inicial imposta nos modelos de transporte euleriano para o cálculo da idade da água no Estuário do Rio Paraíba do Norte.
Figura 23
Animação da distribuição das correntes no domínio de modelagem para um dia da modelagem do período de cheia (01/03 a 31/05/2017)
Figura 24
Animação da distribuição das correntes no domínio de modelagem para um dia da modelagem do período de seca (01/10 a 31/12/2017).
Figura 25
Animação da taxa de renovação no Estuário do Rio Paraíba do Norte durante 35 dias representativo de seca (01/03 a 05/04/2017).
Figura 26
Animação da taxa de renovação no Estuário do Rio Paraíba do Norte durante 92 dias representativos de seca (01/10 a 31/12/2017)./a>
Figura 27
Taxa de renovação após 15 dias de simulação para o cenário de cheia (esquerda) e de seca (direita), respectivamente nos dias 16/03 e 16/10 de 2017. Fica evidente a maior renovação no período de cheia, devido às maiores vazões fluviais.
Figura 28
Séries temporais da taxa de renovação nas seis estações distribuídas pelo Estuário do Rio Paraíba do Norte da simulação representativa de estação cheia (01/03 a 04/04/2017).
Figura 29
Séries temporais da taxa de renovação nas seis estações distribuídas pelo Estuário do Rio Paraíba do Norte da simulação representativa de estação seca (01/10 a 31/12/2017).
Figura 30
Animação da idade da água no Estuário do Rio Paraíba do Norte durante 25 horas representativas de cheia (26/04/2017).
Figura 31
Animação da idade da água no Estuário do Rio Paraíba do Norte durante 25 horas representativas de seca (29/11/2017).
Figura 32
Idade da água após 92 dias de simulação para o cenário de cheia (esquerda) e de seca (direita), respectivamente 31/05 e 31/12 de 2017
Figura 33
Séries temporais da idade da água nas seis estações distribuídas pelo Estuário do Rio Paraíba do Norte da simulação representativa de cheia.
Figura 34
Séries temporais da idade da água nas seis estações distribuídas pelo Estuário do Rio Paraíba do Norte da simulação representativa de seca.o

Lista de Tabelas

Tabela 1
Valores sugeridos para a amplitude efetiva da rugosidade equivalente de fundo, ε. Parte da tabela extraída da Ref. Técnica do SisBaHiA®, v. ROSMAN (2018), adaptado de ABBOTT e BASCO (1989).
Tabela 2
Tabela de constantes harmônicas da FEMAR, ordenadas por amplitude decrescente, da estação Porto de Cabedelo, e seus respectivos valores de amplitude e fase.
Tabela 3
Valores de vazão média mensal (m3/s) considerados para os meses de representativos de cheia e de seca destacados para os principais afluentes do Estuário do Rio Paraíba do Norte considerados na modelagem

Notas:

1. Sobre ponto decimal: Embora no Brasil adote-se a vírgula decimal, é usual em modelagem geofísica adotar-se ponto decimal. O uso de virgula decimal cria dificuldades na importação e troca de dados em bases internacionais. Por esta razão, neste relatório e em todas as modelagens descritas adota-se ponto decimal. Recomenda-se ao interessado em aplicações de modelagem hidrodinâmica ambiental usar ponto decimal.

2. Sobre dados dos modelos: Todos os dados utilizados nos modelos estão disponíveis na base de dados do SisBaHiA®. Os dados podem ser extraídos e utilizados para outras finalidades. Abrindo a base de dados no SisBaHiA®, basta clicar com botão direito e escolher copiar tabela

1Identificação

Título:
Projeto Baías do Brasil
Estuário do Rio Paraíba do Norte, Paraíba

Relatório Descritivo
Programa COPPE:
Engenharia Oceânica
Área de Engenharia Costeira & Oceanográfica
Data:
17 de setembro de 2017

2Objetivos e contexto do projeto

Este trabalho faz parte do Projeto Baías do Brasil, que objetiva disponibilizar bases de dados e mapas necessários para que o interessado possa iniciar trabalhos de modelagem. Objetiva-se assim, facilitar e estimular aplicações de modelagem computacional em análises de hidrodinâmica ambiental em diferentes corpos hídricos do Brasil.

2.1Sobre as modelagens deste relatório e outras

Neste relatório, descreve-se o desenvolvimento de modelagens computacionais através do SisBaHiA® - Sistema Base de Hidrodinâmica Ambiental, em um estudo da circulação hidrodinâmica no Estuário do Rio Paraíba do Norte, PB, incluindo análise de tempos hidráulicos característicos, como tempos de taxas de renovação e idade da água. Embora apenas casos simples de Modelos Hidrodinâmico e de Transporte Euleriano do SisBaHiA® estejam exemplificados, o interessado pode desenvolver outros modelos a partir da base de dados disponibilizada, como descrito na Ref. Técnica do SisBaHiA® , v. ROSMAN (2018):

  • Modelos de Transporte de Sedimentos Coesivos e Não Coesivos e Evolução Morfológica do Fundo;
  • Modelos de Qualidade de Água e Eutrofização;
  • Modelos de Transporte Lagrangeanos Determinístico e Probabilístico;
  • Modelo de Campo Próximo e Decaimento Bacteriano para Emissários e Fontes Pontuais
  • Modelo de Geração de Ondas;
  • Modelo de Propagação de Ondas.

Dependendo dos efeitos incluídos na modelagem hidrodinâmica, outros modelos podem ser acoplados. Seguimos a reproduzir a introdução do Capítulo 3 da Ref. Técnica do SisBaHiA® , v. ROSMAN (2018), sobre a aplicação e acoplamento dos modelos:

  • MH = Modelos Hidrodinâmicos com ou sem efeitos de ondas de curto período:
    • MGO = modelo de geração de ondas por vento local no domínio de modelagem;
    • MPO = modelo de propagação de ondas remotas geradas fora do domínio de modelagem do MH.
  • MQA = Modelos de Qualidade de Água, v. seção 6 da Ref. Técnica do SisBaHiA® (ROSMAN, 2018), para transporte de constituintes que, dependendo do caso, têm comportamento ativo: salinidade e calor (temperatura). Os demais constituintes, e.g. OD, DBO e nutrientes, sempre têm comportamento passivo e por isso são usualmente computados de modo desacoplado.
  • MS = Modelos Sedimentológicos, veja capítulo 4 da Ref. Técnica do SisBaHiA® (ROSMAN, 2018) para sedimentos não-coesivos e capítulo 5 da Ref. Técnica do SisBaHiA® (ROSMAN, 2018) para sedimentos coesivos, em especial seção 5.2.

As seguintes opções são possíveis, envolvendo acoplamento ou não entre os modelos. Quando modelos rodam acoplados são interdependentes. Note que em todos os casos abaixo MH significa modelo hidrodinâmico com ou sem efeitos de ondas de curto período (MGO e/ou MPO):

  1. MH: Análises de circulação hidrodinâmica sem efeitos de gradientes de densidade e sem evolução morfodinâmica de batimetria. Neste caso o MH definido roda apenas para gerar padrões de circulação hidrodinâmica com ou sem efeitos de ondas de curto período. A inclusão de efeitos de ondas de curto período pode ser feita por acoplamento de um MGO e/ou de um MPO. A inclusão de efeitos de onda no MH altera a circulação hidrodinâmica, principalmente em áreas mais rasas e perto da linha de costa, pois afeta as tensões de atrito no fundo e inclui efeitos de tensões de radiação geradas por ondas. Tais efeitos são especialmente relevantes para processos sedimentológicos em zonas costeiras com praias, em lagos, em baías, e similares, sendo irrelevantes em rios. Cenários de MQA e MS podem ser vinculados ao MH desenvolvido, mas nesta opção rodariam desacoplados.
  2. MH+MQA: Análises de circulação hidrodinâmica com efeitos de gradientes de densidade e sem evolução morfodinâmica de batimetria. Neste teremos MH+MQA acoplados, o MH definido, com ou sem efeitos de ondas, roda junto com um MQA acoplado para transporte de sal e/ou temperatura. Outros cenários de MQA e MS podem ser vinculados ao MH desenvolvido, mas nesta opção rodariam desacoplados.
  3. MH+MS: Análises de circulação hidrodinâmica sem efeitos de gradientes de densidade e com evolução morfodinâmica de batimetria. Neste caso teremos MH+MS acoplados, o MH desenvolvido, com ou sem efeitos de ondas, roda junto com MS de sedimentos não-coesivos e/ou coesivos acoplados para transporte de sedimentos e processos de erosão e assoreamento. Outros cenários de MQA e MS podem ser vinculados ao MH desenvolvido, mas nesta opção rodariam desacoplados.
  4. MH+MQA+MS: Análises de circulação hidrodinâmica com efeitos de gradientes de densidade e com efeitos de evolução morfodinâmica. Neste caso teremos MH + MQA + MS acoplados, o MH definido, com ou sem efeitos de ondas, roda junto com um MQA acoplado para transporte de sal e/ou temperatura e junto com MS de sedimentos não-coesivos e/ou coesivos acoplados para transporte de sedimentos e processos de erosão e assoreamento. Outros cenários de MQA e MS podem ser vinculados ao MH desenvolvido neste caso, mas rodariam desacoplados.

Vale destacar que no SisBaHiA® pode-se rodar de modo acoplado MH + MGO + MPO + MQA(Salinidade) + MQA(Temperatura) + MS(não-coesivos) + MS(coesivos). Neste caso, os modelos sentem efeitos uns dos outros, pois são interdependentes.

Em qualquer dos casos, outras análises envolvendo aspectos de qualidade de água ou transporte de sedimentos a serem modeladas com um MQA ou um MS podem ser feitas de modo desacoplado. Nestes casos, os MQA e MS serão modelos clientes vinculados a um MH e só podem rodar depois de obtidos os resultados do MH vinculante.

O modelo hidrodinâmico do SisBaHiA® é chamado de FIST3D (filtered in space and time 3D)Rosman, P.C.C. – Modeling Shallow Water Bodies via Filtering Techniques. Ph.D. thesis Civil Engineering Department, Massachusetts Institute of Technology, 1987 . Trata-se de um eficiente modelo numérico hidrodinâmico, tridimensional, para escoamentos homogêneos e de grande escala. O modelo é composto por dois módulos:

  1. Um módulo 2DH, que calcula correntes promediadas na vertical e a elevação da superfície livre. Por razões de eficiência numérica, o modelo FIST3D sempre inclui esse módulo.
  2. Um módulo 3D que calcula o campo de velocidades tridimensional, com duas opções de metodologia definidas pelo usuário.

Em modelagens hidrodinâmicas 3D, os dois módulos funcionam acoplados e são interdependentes. O módulo 2DH pode ser executado como um módulo independente, se o modelador desejar apenas valores promediados na vertical. Entretanto, como já mencionado, se um campo de escoamento 3D for desejado, existem duas opções disponíveis, e ambas são acopladas ao módulo 2DH:

  • a) Modelo 3D completo, totalmente numérico
  • b) Modelo 3D analítico-numérico para perfis de velocidade no campo de escoamento horizontal. Esta opção é mais eficiente em termos computacionais, mas apenas inclui a aceleração advectiva do módulo 2DH. Portanto, os resultados obtidos são menos precisos em regiões nas quais as acelerações advectivas variem significativamente ao longo da profundidade. Nessa opção, os perfis de velocidade são computados através de uma solução que é função das velocidades 2DH promediadas na vertical, elevação da superfície livre, rugosidade equivalente de fundo do módulo 2DH, e da velocidade do vento atuando na superfície livre da água.

Em ambos os casos os gradientes de elevação da superfície e as tensões de atrito no fundo acoplam os dois módulos, sendo que um acoplamento adicional é garantido ao se forçar que as velocidades médias na vertical sejam iguais em ambos os módulos. O módulo 3D utiliza as elevações da superfície livre obtidas no módulo 2DH. Em sequência, o módulo 2DH utiliza as tensões de atrito no fundo obtidas dos perfis verticais de velocidade calculadas no módulo 3D. No caso da opção estritamente numérica, (a), os perfis de velocidades calculados no módulo 3D são integrados na vertical e comparados com as velocidades 2DH obtidas no módulo 2DH. Caso necessário, os perfis de velocidade 3D são ajustados de modo a fazer coincidir as velocidades médias na vertical nos dois módulos.

3Características da área de estudo

A bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Norte corresponde a um terço de toda a área do estado da Paraíba e drena uma área de 14.397,35 km2, compreendendo as sub-bacias do Baixo, Médio e Alto Paraíba. A bacia possui feições tipicamente estuarinas desde a região de Bayeux até a foz do Rio Paraíba do Norte, em Cabedelo, compreendendo uma distância de 20 km (NEPREMAR, 1980).

A área de estudo deste trabalho envolve a porção estuarina do Baixo Paraíba, denominada Estuário do Rio Paraíba do Norte (ERPN), localizado entre as coordenadas 34°50’00” a 34°57’30’’ W e 6°55’00’’ e 7°7’30” S.

Os principais rios que compõem o ERPN são: Sanhauá, Mandacaru, Tambiá, Ribeira, Caboco, Mangebera e rio da Estiva, sendo estes os rios que mais contribuem com aporte de água doce no estuário.

A qualidade da água do ERPN é fortemente influenciada pelos seus rios afluentes, devido aos mesmo estarem inseridos em regiões urbanas e receberem uma carga orgânica proveniente de esgotos domésticos e industriais. Dentre essas fontes, têm-se o polo de tratamento de esgotos da Bacia do Rio Paraíba na Grande João Pessoa, como também os efluentes decorrentes de atividades industriais, como a carcinicultura, atividade esta que vem se expandindo nas regiões de manguezais do estuário

Neste contexto, estudos sobre a circulação hidrodinâmica e taxa de renovação da água nesta região podem auxiliar na definição de áreas críticas de poluição, onde a circulação hidrodinâmica com a renovação da água do estuário ocorridas naturalmente não são suficientes para diluir a poluição recebida, ou mesmo dispersá-la levando-a para longe da costa.

Estuário do Rio Paraíba do Norte
Figura 1. Vista aérea do Estuário do Rio Paraíba do Norte e o seu entorno. Fonte: Mosaico gerado a partir de imagens do satélite Landsat 8 OLI (Operational Land Imager) obtidas no ano de 2017.

4Modelagem Digital do Terreno

O primeiro passo para análises de hidrodinâmica ambiental em uma região é a definição do domínio de interesse e a modelagem digital do terreno deste domínio. Nos itens a seguir, descreve-se o que foi feito neste exemplo do Estuário do Rio Paraíba do Norte.

4.1Definição do domínio de interesse

O domínio de modelagem é limitado por contornos terrestres e abertos. Na definição do domínio, em geral, os contornos abertos são limites de conveniência entre massas de água. No caso do ERPN exemplificado, ambos os contornos foram definidos a partir de imagens do Google Earth e foram unidos e redesenhados usando o programa Surfer, constituindo o mapa base para este estudo, cf. Figura 2. Na figura, o mapa ficou propositalmente maior que o domínio, de modo a facilitar a localização e ter espaço para incluir escalas e outras informações usuais em mapas para relatórios técnicos.

O contorno de terra representa as margens de baías ou lagoas, seções de rios ou canais e margens de ilhas que estão dentro do domínio de modelagem. Já o contorno de água delimita o domínio de modelagem não prescrito pelo contorno físico, como é o caso de entradas de baías e estuários. O alcance de ambos contornos devem ser pensados de acordo com o interesse específico de cada modelagem.

Estuário do Rio Paraíba do Norte
Figura 2. Mapa base da Estuário do Rio Paraíba do Norte utilizado na modelagem.

4.2Malha de discretização

Após exportar o mapa base e seus respectivos contornos para o SisBaHiA®, foi confeccionada a malha de elementos finitos utilizada na discretização do domínio espacial do modelo, Figura 3. A malha do domínio resultou em 2302 elementos totais, sendo 1888 elementos quadrangulares e 127 triangulares, e contendo um total de 10504 nós de cálculo, como mostra o quadro de informações na tela inicial do item “Malhas & Domínios de Modelagem”, Figura 4. Esta tela reúne estas informações assim que a malha é criada no item “Modelagem” encontrado no canto superior esquerdo da tela inicial do SisBaHiA®.

Estuário do Rio Paraíba do Norte
Figura 3. Domínio de modelagem e malha de discretização utilizada. Ver dados da malha na Figura 4
Tela do SisBaHiA<sup>®</sup>
Figura 4. Tela do SisBaHiA® com as informações sobre a malha e o domínio de modelagem no quadro a direita. Veja mapa da malha na Figura 3.

4.3Batimetria

Os dados de batimetria do ERPN adotados foram provenientes de cartas náuticas da Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha do Brasil (DHN). Especificamente, das cartas náuticas Porto de Cabedelo no 830 (escala 1:15.000) e Proximidades do Porto de Cabedelo nº 806 (escala 1:50.000).

Os dados de batimetria foram reunidos e organizados para serem posteriormente interpolados através do SisBaHiA®, que utiliza o programa Surfer. Neste caso, adotou-se o método de interpolação Kriging. A Figura 5 apresenta o mapa com as batimetrias resultantes para o domínio de modelagem.

Estuário do Rio Paraíba do Norte
Figura 5. Batimetria do Estuário do Rio Paraíba do Norte utilizada no domínio de modelagem.

Os dados interpolados de batimetria utilizados na modelagem podem ser extraídos acessando a base de dados no SisBaHiA® em Malha & Domínios de Modelagem na aba Nós, e clicando posteriormente com o botão direito na tabela mostrada na Figura 6, escolhendo copiar tabela.

Tela do SisBaHiA<sup>®</sup>
Figura 6. Tela de Malhas & Domínios de Modelagem na aba de Nós, onde é possível extrair as coordenadas “X” e “Y” em UTM dos nós da malha, os dados de batimetria e rugosidade equivalente de fundo em metros.

4.4Rugosidade equivalente de fundo

A tensão de atrito no fundo depende da amplitude da rugosidade equivalente de fundo, que é determinada em função da natureza do sedimento da área a ser modelada. Os valores desta rugosidade devem ser dados ao modelo hidrodinâmico em todo seu domínio. Estes são adotados através de uma aproximação seguindo os valores sugeridos por ABBOTT e BASCO (1989) adaptado por ROSMAN (2018), como mostrado na Tabela 1.

Os valores adotados para a amplitude da rugosidade equivalente de fundo, sem os efeitos de ondas, foram inferidos a partir da distribuição granulométrica do fundo. A Figura 7 mostra a configuração da rugosidade do fundo adotada para o modelo hidrodinâmico.

Resultados obtidos em modelagem hidrodinâmica preliminar, bem como informações disponíveis na carta náutica 830, sugerem que no sul do estuário predomina a presença de siltes, enquanto na região central, até sua embocadura, há predominância de areias médias. Nas praias adjacentes à saída do estuário encontram-se fundos compostos por areias médias e grossas, além da presença de recifes de corais na região.

Tabela 1. Valores sugeridos para a amplitude efetiva da rugosidade equivalente de fundo, ε. Parte da tabela extraída da Ref. Técnica do SisBaHiA®, v. ROSMAN (2018), adaptado de ABBOTT e BASCO (1989).
tabela de rugosidade
figura de rugosidade
Figura 7. Amplitude da rugosidade equivalente de fundo do Estuário do Rio Paraíba do Norte utilizada no domínio de modelagem..

Os dados interpolados de rugosidade equivalente de fundo utilizados na modelagem podem ser extraídos acessando a base de dados no SisBaHiA® em Malha & Domínios de Modelagem na aba Nós, e clicando posteriormente com o botão direito na tabela mostrada na Figura 6

5Modelo desenvolvidos

Os modelos desenvolvidos para modelagem da hidrodinâmica e de aspectos de qualidade de água no Estuário do Rio Paraíba do Norte fazem parte do SisBaHiA® - Sistema Base de Hidrodinâmica Ambiental. O SisBaHiA® encontra-se continuamente sendo ampliado e aperfeiçoado na COPPE/UFRJ desde 1987, através de várias teses de mestrado e doutorado, além de projetos de pesquisa envolvendo modelagem de corpos de água naturais. Maiores detalhes sobre o SisBaHiA® podem ser obtidos no site www.sisbahia.coppe.ufrj.br. Os modelos adotados nesse projeto são:

  1. Modelo Hidrodinâmico: é um modelo de circulação hidrodinâmica 3D ou 2DH otimizado para corpos de água naturais. Resultados podem ser tanto 3D quanto 2DH, dependendo dos dados de entrada. “Otimizado” é usado no sentido de um modelo planejado para ótima representação de escoamentos em domínios naturais com geometria complexa. Processos de calibração são minimizados devido a fatores como: discretização espacial via elementos finitos quadráticos e transformação, permitindo ótimo mapeamento de corpos de água com linhas de costa e batimetrias complexas, campos de vento e atrito do fundo podendo variar dinamicamente no tempo e no espaço, e modelagem de turbulência multiescala baseada em Simulação de Grandes Vórtices (LES). Pode-se incluir efeitos de gradientes de densidade acoplando modelos de transporte de sal e calor dos Modelos de Qualidade de Água, vide abaixo, a modelos hidrodinâmicos. Pode-se também incluir evolução morfológica do fundo, com acoplamento de Modelos de Transporte de Sedimentos, de Geração e de Propagação de Ondas descritos abaixo. Permite análises determinísticas e estatísticas nos resultados obtidos. No exemplo deste relatório, adotou-se modelo 2DH sem gradientes de densidade.
  2. Modelos de Transporte Eulerianos: são modelos de uso geral para simulação de transporte advectivo-difusivo com reações cinéticas de escalares dissolvidos ou partículas em suspensão na massa d’água. Os modelos podem ser aplicados a escoamentos 2DH, ou em camadas selecionadas de escoamentos 3D. Permitem a utilização de praticamente qualquer tipo de reação cinética de decaimento ou produção do contaminante sendo modelado, inclusive através de curvas de decaimento fornecidas através de tabelas e valores. Pode-se também simular processos de perda ou ganho de massa por sedimentação e erosão. Este modelo opera o transporte de sedimentos coesivos com evolução morfológica do fundo. Permite análises determinísticas e estatísticas nos resultados obtidos.

5.1Cenários de Modelagem

Para uma melhor caracterização da hidrodinâmica e da renovação das águas do estuário, é interessante apresentar análises com diferenças sazonais que consideram diferentes padrões de ventos, marés e descargas fluviais. Sendo assim, foram propostos dois cenários de simulação. O primeiro cenário proposto foi o representativo de cheia, incluindo os meses de março, abril e maio de 2017, o segundo cenário adotado foi o representativo de seca, incluindo neste, os meses de outubro, novembro e dezembro de 2017. A escolha de tais períodos de simulação ocorreu pelo fato da região não ter uma variabilidade climática distinta entre as estações do ano, assim, a maior representatividade dos períodos definidos se deu de acordo com os meses de maiores e menores vazões dos afluentes. O ano escolhido está de acordo com a disponibilidade de dados mais recentes.

A Figura 8 mostra a tela inicial do modelo hidrodinâmico do SisBaHiA® com as configurações iniciais da simulação de cheia, sendo as mesmas aplicadas para o modelo de seca. O passo a passo para a montagem de um modelo está presente nos próximos itens de forma simplificada. Para maiores detalhes desta montagem e também especificações de ferramentas presentes neste modelo acesse o link: http://www.sisbahia.coppe.ufrj.br/ManualSisbahia.htm, do “Manual do Usuário do SisBaHiA®.

Tela do SisBaHiA<sup>®</sup>
Figura 8. Tela inicial do Modelo Hidrodinâmico do SisBaHiA® com informações sobre a simulação. O tempo inicial corresponde a 01/03/2017 00:00 e o final a 31/05/2017 24:00.

5.2Dados oceanográficos

Os itens a seguir descrevem os dados oceanográficos inseridos no modelo bem como explica a metodologia utilizada para a melhor representação da hidrodinâmica no domínio de modelagem.

5.2.1Marés

Os níveis de maré inseridos como condicionantes na fronteira aberta com o mar foram obtidos a partir do conjunto de constantes harmônicas do Porto de Cabedelo, disponibilizadas pela Fundação FEMAR e expostas em ordem de magnitude na Tabela 2. Tais constantes são referidas a medições de maré durante um período de 365 dias entre 31 de janeiro de 1981 e 31 de janeiro de 1982. Ressalta-se que a previsão de maré obtida a partir das constantes harmônicas da FEMAR foi comparada com uma série gerada a partir de constantes harmônicas do modelo global FES2014 (Finite Element Solution). Os resultados foram praticamente idênticos. Dado o resultado obtido por meio desta comparação, bem como o período de 365 dias de medição, assumiu-se que o dado de maré considerando as constantes harmônicas da FEMAR é confiável.

Tabela 2. Tabela de constantes harmônicas da FEMAR, ordenadas por amplitude decrescente, da estação Porto de Cabedelo, e seus respectivos valores de amplitude e fase.
Tabela de constantes harmônicas

A maré na região modelada é semidiurna com desigualdade diurna, isto é, ocorrem diferenças de altura entre duas baixa-mares ou entre duas preamares no mesmo dia. Durante a sizígia, as alturas de maré são frequentemente maiores que 2,5 m, conforme exposto na Figura 9.

Tela do SisBaHiA<sup>®</sup>
Figura 9. Curva de maré na embocadura do estuário, próximo ao Porto de Cabedelo durante os 92 dias de modelagem, de 01 de março a 31 de maio de 2017. O nível médio está 1.3 m acima do nível de redução da Carta Náutica 830 da DHN.

Para extrair os dados de elevação fornecidos para a fronteira aberta nesta modelagem, basta abrir a base de dados no SisBaHiA, acessar o Modelo Hidrodinâmico do período de Cheia ou de Seca, na aba Parâmetros, e clicar com o botão esquerdo no botão com a lupa mostrado na Figura 10 . A tabela de constantes harmônicas está disponível na aba “Constantes Harmônicas” do menu Malhas e Domínios de Modelagem.

Tela do SisBaHiA<sup>®</sup>
Figura 10. Tela do Modelo Hidrodinâmico do SisBaHiA® na aba “Parâmetros”, onde se pode obter a série de elevações da maré nos nós da Fronteira Aberta.

5.3Dados hidro-meteorológicos

Este item reúne dados sobre vazões e ventos inseridos para a modelagem hidrodinâmica e suas respectivas fontes e metodologia aplicada.

5.3.1Vazões

A vazão fluvial mais significativa que aflui ao ERPN é aquela proveniente desse próprio rio. O modelo considerou dados de vazão fluvial média mensal de todos os afluentes. As vazões médias de cada mês do Rio Paraíba foram adaptadas de XAVIER et al. (2012), que compilou dados da série histórica do HIDROWEB, sistema de informações hidrológicas da Agência Nacional de Águas (ANA, 2016), para a bacia hidrográfica do Rio Paraíba, considerando o período entre 1970 e 2006.

A estação fluviométrica instalada mais próxima da região de interesse é a estação Ponte da Batalha, responsável por drenar uma bacia hidrográfica com área de 19.000 km², segundo informação da ANA. No entanto, os dados disponíveis para tal estação apresentavam valores inconsistentes. À montante desta estação, têm-se a estação Guarita, que drena uma bacia hidrográfica com área de 17.400 km², valor que é menos de 10% menor que a área drenada pela estação Ponte da Batalha. Assim sendo, a vazão média mensal dada na fronteira fluvial do Rio Paraíba foi considerada como 10% maior que os dados calculados para a estação Guarita.

Devido à escassez de dados, por não haver estações fluviométricas suficientes e medições na região, as vazões fluviais dos demais rios contribuintes ao ERPN foram inferidas e inseridas na modelagem utilizando valores de fluxo médio mensal baseados e comparados com as vazões do Rio Paraíba do Norte, conforme Tabela 3. Os rios considerados na modelagem estão desenhados no mapa base da Figura 2.

Para introduzir os rios na modelagem utilizou-se o tipo de nó “V9” que permite modelar, através de um talude prescrito, o efeito da maré sobre o fluxo do rio, invertendo o sentido do fluxo ou diminuindo a sua velocidade. A aba no qual está informação é definida está disposta na imagem da tela do SisBaHiA® da Figura 12. A intrusão deste efeito da maré em rios é importante quando o efeito da maré for além do ponto final do rio a montante considerado na modelagem, como ocorreu no caso que está sendo apresentado neste relatório. Este tipo de nó fornece dados variáveis ao longo do tempo, garantindo o efeito de sazonalidade do estudo.

Tabela 3. Valores de vazão média mensal (m³/s) considerados para os meses de representativos de cheia e de seca destacados para os principais afluentes do Estuário do Rio Paraíba do Norte considerados na modelagem.
Valores de vazão média mensal
 vazões médias mensais
Figura 11. Gráfico representando as vazões médias mensais de cada afluente do ERPN.

Neste trabalho foram definidos taludes de forma preliminar. Na Ref. Técnica do SisBaHiA® essa condição é explicada em maior detalhe, sendo apresentada metodologia de estimativa de taludes.

No SisBaHiA®, dados de vazão devem ser prescritos em m³/s/m, distribuídos em nós de um segmento de fronteira. A vazão é no modelo como uma distribuição parabólica quadrática pelo lado do respectivo elemento, centrada no meio do lado do elemento. Os rios afluentes ao ERPN foram representados com apenas um elemento na seção de montante. A vazão nodal foi distribuída de forma parabólica, com valores zero nas margens e q = 1.5Q/L no ponto central, onde q é a vazão distribuída no lado do elemento (m3/s/m), Q é a vazão fluvial (m3/s) e L é a largura da seção transversal do elemento (m). Essas informações são definidas na aba Fronteiras/Contornos/Terrestres, como mostra a imagem da tela do SisBaHiA® na Figura 12.

Como percebe-se na Figura 12, que mostra os valores de vazão por metro linear prescritos para o nó central da seção de montante do Rio Paraíba do Norte, os valores de vazão são acompanhados por um sinal negativo, que indica que o fluxo está entrando no domínio, ou seja, é um afluxo. Se fosse positivo, indicaria que o fluxo estaria saindo do sistema, caracterizando um efluxo. Esse sinal é sempre referente ao sentido do vetor normal à fronteira, que aponta para o exterior da malha, no respectivo lado. Maiores explicações podem ser encontradas na Ref. Técnica do SisBaHiA®, v. Rosman (2018).

Tela do SisBaHiA<sup>®</sup>
Figura 12. Tela do Modelo Hidrodinâmico do SisBaHiA® na aba “Fronteiras>Contornos>Terrestres” com os nós do Tipo 9 filtrados na tabela de nós terrestres, que correspondem aos que foram inseridos os valores das vazões.

5.3.2Ventos

A tensão de atrito do vento na superfície livre é calculada pelo modelo quando se prescreve valores de velocidades em estações localizadas sobre o domínio de modelagem, e o modelo interpola valores de direção e intensidade dos ventos para cada nó da malha. Com o objetivo de introduzir na modelagem um vento variável no tempo e variado no espaço, adotou-se séries temporais de seis estações, como mostra a tela do SisBaHiA® na Figura 13. As estações, ilustradas na Figura 14, possuem séries temporais de intensidade de velocidade e direção para o tempo total de simulação.

Os dados de ventos utilizados neste trabalho são dados de reanálise disponibilizados pelo site http://apps.ecmwf.int/datasets/data/interim-full-daily/levtype=sfc/, do ECMWF – European Comunity Medium scale Weather Forecast. Os dados utilizados, obtidos em grade regular de 0.125° x 0,125° com resolução temporal de 3h, representam o vento a 10 m de altura. As séries temporais obtidas contem valores a cada seis horas de velocidades das componentes Leste (U) e Norte(V) dos ventos. As séries temporais de vento obtidas em cada estação foram interpoladas para os nós da malha do modelo hidrodinâmico, a fim gerar o campo de vento para todo o domínio.

Repare na Figura 13, que os dados inseridos no modelo estão na forma de magnitude de velocidade e direção do vento em ângulo azimute.

Tela do SisBaHiA<sup>®</sup>
Figura 13. Tela do Modelo Hidrodinâmico do SisBaHiA® na aba “Variáveis Meteorológicas>Vento”, onde são inseridas as informações dos ventos considerados para as modelagens.
Tela do SisBaHiA<sup>®</sup>
Figura 14. Localização dos pontos de grade do modelo atmosféricos ERA-Interim do ECMWF, nos quais foram extraídas as séries temporais vento utilizadas como forçantes atmosféricas para o modelo hidrodinâmico.

A Figura 15 e Figura 16 ilustram os padrões de ventos obtidos para os meses de março e novembro que foram utilizados para as modelagens deste projeto. A direção predominante dos ventos é de sudeste, sendo esta uma característica marcante da região, pois encontra-se sob o regime de ventos alísios. Quanto a intensidade, a velocidade máxima é de 10.2 m/s no mês de novembro.

Tela do SisBaHiA<sup>®</sup>
Figura 15. Dados de ventos representativos do mês de março de 2017 para a estação Est1 inseridas no modelo hidrodinâmico. As setas são proporcionais ao módulo da velocidade do vento assim como o padrão de cores de fundo e a direção das setas indicam a direção do vento.
Estuário do Rio Paraíba do Norte
Figura 16. Dados de ventos representativos do mês de novembro de 2017 para a estação Est1 inseridas no modelo hidrodinâmico. As setas são proporcionais ao módulo da velocidade do vento assim como o padrão de cores de fundo e a direção das setas indicam a direção do vento.

5.4Estações

Dentro do domínio de modelagem, escolheram-se algumas estações, onde foram gravados resultados temporais a cada trinta minutos, que estão dispostas na tabela a direita da imagem da Figura 17. Esta tabela indica as coordenadas dos nós em que estão alocadas. Para os resultados temporais das taxas de renovação foram selecionadas seis estações e a localização das mesmas estão distribuídas no mapa da Figura 18.

Tela do SisBaHiA<sup>®</sup>
Figura 17. Tela do Modelo Hidrodinâmico do SisBaHiA® na aba “Resultados”, onde está a tabela de todas as estações consideradas para as modelagens
Mapa de estações de gravação de resultados temporais
Figura 18. Mapa de estações de gravação de resultados temporais a cada trinta minutos.

5.5Calibração

A calibração de modelos de hidrodinâmica ambiental é um processo que segue três passos, para mais detalhes, consulte a Referência Técnica do SisBaHiA®:

Calibração geométrica: aferir se a modelagem digital do terreno do domínio de modelagem, garantindo que este represente adequadamente os contornos e batimetrias da região de interesse.

Calibração hidrodinâmica: aferir se os modelos hidrodinâmicos representam adequadamente a variação de níveis de água e correntes na região de interesse, sob diversas condições, sejam elas marés, ventos e vazões. É importante que estas informações sobre as forçantes da circulação hidrodinâmica local estejam corretas.

calibração de modelos de transporte de escalares: : aferir se os modelos de transporte escalares são capazes de representar adequadamente as concentrações de parâmetros de qualidade de água ou vazões sólidas ao longo do tempo. As informações sobre fontes poluentes e sobre taxas de reação de parâmetros não conservativos, como de coliformes tolerantes, sejam corretas.

Uma boa calibração do passo 3 depende fortemente de uma ótima calibração do passo 2, que só é conquistada se a calibração do passo 1 for executada com sucesso. Para o trabalho apresentado neste relatório, o nível de água do modelo hidrodinâmica foi calibrado em função da previsão de maré para o Porto de Cabedelo durante o período simulado. A Figura 19 sobrepõe a variação do nível de água calculada pelo modelo para o mês de março de 2017 no cais do Porto de Cabedelo e a previsão de maré para o período nesse mesmo ponto. Nota-se que o modelo reproduziu bem a maré prevista para a região. Não foi possível realizar calibração dos modelos de transporte de escalares devido à falta de dados.

Previsão de maré e níveis de água
Figura 19.Previsão de maré e níveis de água calculados pelo modelo hidrodinâmico no cais do Porto de Cabedelo para os primeiros 31 dias de simulação.

6Modelo de transporte Euleriano

O cálculo da taxa de renovação e idade da água foi realizado através do Modelo de Transporte Euleriano do SisBaHiA®. Este pode ser utilizado para análises gerais de qualidade de água alterada por algum escalar cuja concentração não interfere na hidrodinâmica. O modelo admite ampla variedade de tipos de reações cinéticas entre a substância e água do meio receptor.

Foram modelados dois cenários para cada uma das análises. Um cenário de cheia, calculado a partir da modelagem hidrodinâmica do meses de março, abril e maio de 2017, e outro cenário de seca, calculado a partir de outubro, novembro e dezembro de 2017. A imagem da Figura 20, mostra a tela inicial deste modelo com as especificações da modelagem representativa de cheia da taxa de renovação da água.

Tela do SisBaHiA<sup>®</sup>
Figura 20. Tela do Modelo de Transporte Euleriano do SisBaHiA®, utilizado para as simulações das taxas de renovação e da idade da água para os cenários de cheia e seca./figcaption>

6.1Taxa de renovação

Para preparar o modelo da taxa de renovação marca-se no instante inicial um valor de referência igual a 0% para as águas que estão dentro do sistema. A renovação devida ao efeito da maré considera que a água que entra no domínio pela fronteira aberta possui valor de referência igual a 100%. Para o aporte fluvial, considera-se que as vazões fluviais afluentes ao domínio, na cabeceira dos rios, possuem o valor 100% também. A renovação total das águas é calculada a partir da combinação destas duas condições iniciais.

Desta forma, a porcentagem de água renovada no domínio será diretamente proporcional a esta concentração, variando de 0% a 100%, sofrendo apenas advecção e dispersão em todo domínio. Ao longo do tempo de simulação, trocas de águas e processos de mistura ocorrem desde o instante inicial, originadas das bacias hidrográficas e da região costeira. Os valores resultantes destas simulações são interpretados como porcentagem de água nova que entrou na região de interesse.

É válido ressaltar que as águas consideradas “novas” não são necessariamente águas limpas. O modelo em questão não representa a qualidade das águas, pois não foram prescritas quantidades de matéria orgânica ou nutrientes afluentes no sistema, por exemplo. Mais explicações sobre a concepção do modelo de Taxa de Renovação podem ser encontradas no capítulo 5 da Ref. Técnica do SisBaHiA, v. Rosman (2018).

A Figura 21 mostra a condição inicial dada ao Modelo de Transporte Euleriano que representa a taxa de renovação espacial do domínio de modelagem. Foram rodados cenários de cheia e seca durante noventa dias, que correspondem aos dias de simulação do modelo hidrodinâmico.

Condição inicial imposta nos modelos de transporte Euleriano
Figura 21. Condição inicial imposta nos modelos de transporte Euleriano para o cálculo da taxa de renovação do Estuário do Rio Paraíba do Norte.

6.2Idade da água

A análise da idade da água permite analisar quanto tempo a água permanece em diferentes setores ao longo do tempo. Este tempo é estimado a partir do decaimento de uma substância passiva marcadora de idade presente na água. Para poder determinar o tempo de decaimento, é obrigatório que a substância marcadora de idade tenha reação cinética de decaimento de primeira ordem, com taxa constante de k > 0, sem outros efeitos de perdas e ganhos de massa.

Para conceituar o cálculo, é considerado um volume de água bem misturado com concentração inicial C0 de tal substância. Sendo a cinética de decaimento de primeira ordem, a variação no tempo da concentração da substância marcadora de idade, C(t)0, é dada por: dC⁄dt = -kC, cuja solução analítica leva a: C(t) = C0 exp⁡(-kt) e, portanto, t = - ln⁡ (C⁄C0).

Conhecida a concentração inicial C0 e uma concentração C registrada posteriormente, determina-se diretamente o tempo de decaimento decorrido entre o instante inicial e o instante do registro de C. A diferença entre estes dois instantes define a “Idade da Água” no instante do registro.

Como se trata de um corpo de água natural, com entradas de água nova com C = C0 em diferentes pontos e tempos, bem como saídas de água que já sofreram decaimento e que apresentam concentrações diferentes em diversos pontos e tempos, a concentração é função do tempo e do espaço, C (x,y,t). Consequentemente, a Idade da Água será uma função variando no espaço e no tempo: IA (x,y,t) = ( -ln ⁡(C (x,y,t)) / C0) ⁄ k.

Pelo exposto, para preparar o modelo de idade da água marca-se no instante inicial C(x,y,t0) = C0 = 1 em todo o domínio de modelagem, Figura 22. Consequentemente, no início IA = 0, pois o ln (1) = 0 em todos os locais. As novas águas que entram no domínio pelos principais afluentes tem idade zero e, por isso, devem ter concentração de substância marcadora de idade igual a um.

A medida em que as águas iniciais e as águas novas com IA = 0 vão se misturando no domínio de interesse e sendo transportadas, o valor de C vai diminuindo em cada local em função do processo de decaimento. Com isso, o valor de IA torna-se diferente em cada ponto, pois depende da magnitude das correntes e da turbulência no local.

Modelos de transporte euleriano
Figura 22. Condição inicial imposta nos modelos de transporte euleriano para o cálculo da idade da água no Estuário do Rio Paraíba do Norte.

7Resultados

Abaixo estão dispostos os resultados obtidos inicialmente pela modelagem hidrodinâmica e posteriormente os da taxa de renovação e idade da água dentro do domínio tanto espaciais quanto temporais.

7.1Hidrodinâmico

A seguir, mostram-se os resultados através de animações que representam as velocidades de correntes obtidas nas modelagens hidrodinâmicas para o cenário de cheia, Figura 23, e para o cenário de seca, Figura 24, de 2017. As isolinhas das animações representam o módulo da velocidade, vetores as correntes, onde as setas indicam o sentido das correntes e tamanho a intensidade das mesmas.

As animações mostram um dia corrido de resultados horários para dias onde houveram correntes mais intensas dentro da baía. Esta análise indica o percurso das águas em momentos de marés enchente e vazante.

Animação da distribuição das correntes
Figura 23. Animação da distribuição das correntes no domínio de modelagem para um dia da modelagem do período de cheia (01/03 a 31/05/2017).
Animação da distribuição das correntes
Figura 24. Animação da distribuição das correntes no domínio de modelagem para um dia da modelagem do período de seca (01/10 a 31/12/2017).

7.2Taxa de Renovação

Os resultados da taxa de renovação das águas estão apresentados em forma de animação das isolinhas de renovação para cada dia de simulação para os cenários de cheia e de seca. Observa-se que a entrada de águas novas na baía se dá pela maré e pelos rios afluentes.

A renovação das águas do ERPN ocorre principalmente devido ao efeito da maré e das vazões fluviais ao rio Paraíba, como consequência, as regiões que possuem uma renovação mais rápida são aquelas próximas a embocadura do estuário e a entrada dos afluentes.

Analisando a diferença de sazonalidade em ambos períodos modelados, fica claro a grande representatividade das vazões afluentes na renovação das águas nesta região. Quando comparados, o cenário de cheia possui uma renovação de mais de 90% em 35 dias. Enquanto no cenário de seca, a renovação alcança este mesmo valor de 90% em 85 dias.

Animação da distribuição das correntes
Figura 25. Animação da taxa de renovação no Estuário do Rio Paraíba do Norte durante 35 dias representativo de seca (01/03 a 05/04/2017).
Animação da taxa de renovação
Figura 26. Animação da taxa de renovação no Estuário do Rio Paraíba do Norte durante 92 dias representativos de seca (01/10 a 31/12/2017).

Comparando o resultado dos primeiros 15 dias de simulação na Figura 27, é possível notar ao sul do ERPN as águas possuem uma renovação mais lenta no período de seca devido as menores vazões dos afluentes. Observa-se também que em ambos os casos, a região central apresenta uma menor exposição de mistura com águas consideradas novas.

Animação da taxa de renovação
Figura 27. Taxa de renovação após 15 dias de simulação para o cenário de cheia (esquerda) e de seca (direita), respectivamente nos dias 16/03 e 16/10 de 2017. Fica evidente a maior renovação no período de cheia, devido às maiores vazões fluviais.

Nos gráficos da Figura 28 e da Figura 29 estão plotadas as séries temporais da taxa de renovação para as estações definidas na Figura 18. Na estação Embocadura do Estuário, a mais próxima à embocadura, as águas renovam-se principalmente pelo efeito de subida e descida da maré.

A renovação das águas devido ao aporte dos rios destacam-se mais na modelagem de cheia. Neste caso, a vazão dos rios possui maior intensidade devido às maiores vazões fluviais como mostra a Tabela 3.

Taxa de renovação
Figura 28. Séries temporais da taxa de renovação nas seis estações distribuídas pelo Estuário do Rio Paraíba do Norte da simulação representativa de estação cheia (01/03 a 04/04/2017).
Séries temporais da taxa de renovação
Figura 29. Séries temporais da taxa de renovação nas seis estações distribuídas pelo Estuário do Rio Paraíba do Norte da simulação representativa de estação seca (01/10 a 31/12/2017).

7.3Idade da Água

As animações a seguir mostram os resultados espaciais em isolinhas que representam a idade da água em todo domínio de modelagem. A medida que o tempo de simulação decorre, as águas de dentro do domínio vão ficando mais velhas e misturando-se com as águas novas afluentes. Desta forma, as águas que mais se renovam ficam menos velhas, enquanto que as águas que menos se renovam envelhecem a medida que o tempo de simulação avança.

Assim como pôde ser notado no modelo de taxa de renovação, as águas da região sul do estuário são as menos renovadas e, portanto, as mais velhas. A região central não tem muita influência das águas afluentes dos rios e do mar. A região sul do ERPN possui águas mais novas, principalmente na simulação de cheia, pois as vazões são maiores que as do período de seca, o que leva a uma maior renovação geral de toda baía. Já a região próxima à embocadura está sempre circundada de águas mais novas devido à existência de águas provenientes do mar, o que permite uma maior mistura de águas de dentro da baía com o mar.

Animação da idade da água
Figura 30. Animação da idade da água no Estuário do Rio Paraíba do Norte durante 25 horas representativas de cheia (26/04/2017).
Animação da idade da água
Figura 31. Animação da idade da água no Estuário do Rio Paraíba do Norte durante 25 horas representativas de seca (29/11/2017).

Os mapas representados na Figura 32 para o instante final desta análise, evidenciam que na região central, principalmente no período de seca, as águas da região próximas às Ilhas do Eixo, Tiriri e Stuart são as mais velhas.

Idade da água após 92 dias
Figura 32. . Idade da água após 92 dias de simulação para o cenário de cheia (esquerda) e de seca (direita), respectivamente 31/05 e 31/12 de 2017.

Nos gráficos da Figura 33 e da Figura 34 estão plotadas as séries temporais da idade da água para as estações definidas na Figura 18, que quantificam a idade observada nos mapas acima. Na medida que a simulação decorre, a tendência é que estas curvas se estabilizem em um valor de idade da água que pode ser considerado o tempo de residência das águas em cada uma das estações.

Nota-se que nas estações mais próximas a embocadura, a idade da água é dominada pelo ciclo da maré. As estações Embocadura do Estuário e Montante do Rio Paraíba possuem uma idade menor que as demais, principalmente no período de cheia. Como já comentado anteriormente, a influência dos rios no processo de mistura das águas de todo estuário é muito importante.

Embora as amplitudes de maré sejam maiores no inverno, a idade na estação Embocadura do Estuário, estação mais próxima à embocadura, se estabiliza após dez dias dos noventa dias de simulação para ambos os cenários simulados. No entanto, a estação Jusante Rio da Ribeira e Caboco, na região central do ERPN, tem uma diferença de quase vinte dias mais velha no período seca se comparada com o resultado da simulação de cheia.

Séries temporais da idade da água
Figura 33. Séries temporais da idade da água nas seis estações distribuídas pelo Estuário do Rio Paraíba do Norte da simulação representativa de cheia.
Séries temporais da idade da água
Figura 34. Séries temporais da idade da água nas seis estações distribuídas pelo Estuário do Rio Paraíba do Norte da simulação representativa de seca.

As análises de taxa de renovação e idade da água permitem realizar estimativas bastante detalhadas em cada região do Estuário do Rio Paraíba do Norte. De acordo com estes dois resultados podemos inferir que regiões com menor renovação das águas e consequente idade média da água elevada, são regiões onde as reações cinéticas são muito importantes e podem envolver processos de eutrofização. Estas características fazem com que as análises de taxa de renovação e idade da água sejam interessantes para análises de qualidade de água de baías e estuários.

8Referências

Abbott, M., & Basco, D. (1989). Computational fluid dynamics. An introduction for engineers. Logman Scientific and Technical.

Amador, E. (2012). Bacia da Baía de Guanabara. Características geoambientais, formação e ecossistemas. Rio de Janeiro: Editora Interciência.

ANA. (2016). Acesso em 14 de fevereiro de 2016, disponível em Agência Nacional de Águas: http://www.snirh.gov.br/hidroweb/publico/apresentacao.jsf

Costa, M. (2015). Da lama ao caos: um estuário. Cadernos Metrópole, 17, 15-39.

Kjerfve, B., Ribeiro, C., Filippo, G., & Quaresma, V. (1997). Oceanographic characteristics of an impacted coastal bay: Baía de Guanabara, Rio de Janeiro. Continental Shef Research, 17, 1609-1643.

Rosman, P. (2017). Referência Técnica do SisBaHiA® - Sistema Base de Hidrodinâmica Ambiental. Engenharia Costeira e Oceanográfica. COPPE/UFRJ., Rio de Janeiro. Fonte: http://www.sisbahia.coppe.ufrj.br/SisBAHIA_RefTec_V9c_.pdf

Xavier, R. A., Dornelas, P. C., Maciel, J. S., BÚ, J. C. Caracterização do Regime Fluvial da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba – PB. Revista Tamoios, ano 08, n. 2, pp. 15 – 28, 2012

8.1Outros trabalhos

Em www.sisbahia.coppe.ufrj.br, nos itens “Aplicações – Projetos” e “ Pesquisas – Teses”, veja referências de outros trabalhos de modelagem feitos com o SisBaHiA®.

9Reconhecimento

Os seguintes técnicos participaram do desenvolvimento deste trabalho: